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(Este artigo foi escrito em Abril de 1999)
A tempos colega CT3CD escreveu, num artigo de opinião, sobre a imagem que a pessoas comum tem do radioamadorismo e da necessidade de se fazer uma divulgação correcta da nossa actividade por forma a corrigir as ideias erróneas que subsistem fazendo com que se atribua o devido valor a esta nossa actividade. Pretendo com este meu artigo dar continuação a esta reflexão procurando identificar as razões mais profundas deste tema apontando concomitantemente para as soluções que me parecem mais viáveis tendo em conta a nossa realidade. Antes de mais refiro que através de conversas com colegas acerca do artigo referido acho que alguns o terão mal interpretado no trecho que refere com justificado desdém a visão reducionista da actividade. Que o radioamadorismo é muito mais do que «festins e beberetes», todos nós todos sabemos, embora ninguém possa negar que estas patuscadas sejam de grande importância na aproximação e convivência entre colegas, não fosse o próprio autor do artigo o promotor oficial de festas e convívios da presente direcção! O exemplo pode não ter sido o mais feliz mas a ideia me parece inegavelmente legítima no seu âmago. Mas como se poderá transmitir uma imagem valorosa de uma actividade se alguns de nós estão permanentemente a realçar os aspectos negativos, que pelos seus actos quer pelos seus comentários, fazendo com que aquela pequena fracção de coisas negativas que qualquer actividade tem seja a única a transparecer. Nomeadamente no que diz respeito ao comportamento e civismo e também na vida associativa. Penso que uma abordagem positiva, talvez até algum orgulho em ser radioamador poderia proporcionar uma imagem mais nobre e elevada, o que conduziria a um melhor reconhecimento e consequentemente um maior entusiasmo e vontade de fazer por parte daqueles que por voluntarismo desinteressado se dispões a tratar dos problemas de todos. Uma constatação: Os comentários negativos propagam-se com mais velocidade do que os elogios, mesmo que estas situações menos boas representem apenas uma ínfima percentagem do todo. Tenhamos algum cuidado então quando emitimos juízos de valor tentando atribuir o devido peso a cada situação inserindo-a no seu contexto global sem se deixar levar por impulsos irreflectidos que, embora disfarçados, desafiam toda a lógica. Por outro lado aquele que ouve terá de manter o espírito crítico suficiente para não ser um crédulo em mãos alheias. Identifico dois níveis onde se transmite a imagem do radioamadorismo a outros: ao nível individual (que dependerá em última análise da capacidade de comunicação de cada um) e ao nível colectivo (onde se exige uma maior intencionalidade e qualidade nesta acção). Ao nível colectivo/associativo uma campanha séria de valorização do nosso hobbie poderia começar, por exemplo, por um inquérito de opinião (modesto claro) na tentativa de identificar qual o nível de informação que as pessoas tem e/ou quais ideias necessitam de ser desenvolvidas e /ou corrigidas nas pessoas. A promoção de eventos como exposições e demonstrações tem sempre um impacto mediático e informativo importante, sendo a ligação e intercâmbio do radioamadorismo com outras instituições da maior importância, como acontece com os Escuteiros ou com outras organizações públicas como a Protecção Civíl e o ICP e outras colectividades afins (associações de CB, etc.). Mas julgo que só será dado o grande passo quando entramos no sistema educativo interagindo com as camadas mais jovens porque o futuro é deles e deles será o futuro do radioamadorismo. Não importará adiantar muito mais sobre o assunto se uma condição fundamental não estiver satisfeita: um associativismo forte e responsável. Os recenseamentos dos amadores a nível internacional demonstra que a sua média de idades está a subir vertiginosamente, se não se fizer um esforço no sentido que se divulgar o nosso hobbie aos jovens potenciais amadores não poderemos ter certezas acerca do futuro da nossa actividade. A exigência do código Morse para a aquisição dos privilégios nas verdadeiras bandas de DX tem sido apontada como um entrave para aqueles que não interessam por este modo de modulação «antiquado» mas que no entanto dominam outras vertentes não menos dignas como os modos digitais e outros. Por outro lado esta exigência por vezes é tida como um verdadeiro mas arbitrário «controlo de qualidade». Mesmo me classificando como entusiasta do CW, penso que seria possível fazer-se um controlo de qualidade apertado através de outras provas de exame em alternativa à telegrafia em código Morse. Penso que o aparecimento de novos radioamadores constitui um factor de evolução a que temos de estar atentos por forma a tentar garantir que esta evolução seja positiva e não degenerativa, todos serão bem vindos desde que correctamente enquadrados com os princípios mais elevados que norteiam nossa actividade. Seria interessante que tivéssemos mais radioamadores pois aumentando o nosso contigente aumentaria a força reivindicativa em relação aos órgãos de poder. Mas nunca serei apologista do incentivo do aumento da quantidade em detrimento da «qualidade». Esclareço que não vejo o radioamadorismo como actividade destinada a elites pois suas vertentes menos elaboradas requerem um investimento pecuniário e de conhecimentos bastante reduzido sendo acessível a quase todos, porém as vertentes mais elaboradas quer em meios quer na necessidade de conhecimentos técnicos revestem-se de um maior elitismo pois é possível correlacionar o tipo de actividade com o perfil sócio-económico e cultural dos seus praticantes. Para finalizar fica a constatação de que a nossa actividade acaba por reflectir as características da sociedade funcionando ao mesmo tempo como promotor de progresso pois visa objectivos e valores que queremos perpetuar. O nosso exemplo e o nosso entusiasmo é na nossa conduta como radioamadores é, sem qualquer dúvida, o melhor veículo de transmissão de uma imagem positiva do radioamadorismo.
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