COMO INTERPRETAR OS DADOS SOBRE A PROPAGAÇÃO
Por Ricardo Martins - CT3KN

Muitos colegas menosprezam a utilidade de se recorrer às previsões da propagação para planificar um concurso ou saber qual seria a melhor altura para efectuar o contacto com uma expedição DX, alegando que as previsões são muito incertas e que não vale a pena dar-se a maçada pois "na altura logo se vê"... Bem, na maior parte das vezes, este tipo de afirmações só servem para disfarçar o desconhecimento do verdadeiro valor das previsões pois não terá havido interesse em saber interpretar correctamente os dados disponibilizados pelos observatórios científicos espalhados por todo o mundo.

Actualmente, e em especial com o advento da internet, já não resta qualquer desculpas para não se recorrer aos dados disponíveis sobre propagação ou pelo menos aprender o seu significado. Actualmente não há expedição ou concursante sérios que não efectuem um estudo prévio mais ou menos elaborado. Pode-se dizer sem qualquer dúvida que um verdadeiro DXer/Contester estará muito interessado nas previsões da propagação para saber com que condições poderá contar, que banda escolher e em que altura. Tanto mais eficaz será esta planificação quanto melhor se associar os dados presentes com dados registados em condições anteriores, isso implica um registo metódico ou pelo menos uma experiência pessoal baseada em observações objectivas. Só na ligação entre os dados científicos com a experiência é que se consegue graus de fiabilidade realmente importantes pois há que saber fazer os ajustes necessários em função das condições reais.

Bem sabemos que nos encontramos mesmo no pico, ou quiçá, já a iniciar a fase descendente do ciclo solar n.º 23. A propagação, em especial nas bandas altas, tem estado muito boa. Segundo consta as expectativas em relação a este ciclo ficaram um tanto abaixo das previsões mais optimistas mas mais vale o pico de um ciclo medíocre do que o fundo de um ciclo magnífico. Aproveitemos porque nos próximos 5 anos a tendência vai ser sempre a do decréscimo das condições.

As definições que se seguem pretendem tão apenas fornecer o mínimo indispensável de informação para que seja possível a interpretação de um boletim de propagação. Por razões de extensão e simplicidade não farei referência às diferentes camadas da ionosfera nem especificarei a sua influência nos diferentes comprimentos de onda, estas considerações ficarão para outra oportunidade.

As correntes condições da ionosfera vão influenciar grandemente a maneira como as ondas rádio de diferentes frequências vão se propagar. De uma forma simplista os "sunspots" ou manchas solares ajudam a incrementar a capacidade da ionosfera refractar as ondas rádio enquanto que os "solar flares" vão causar distúrbios na ionosfera conhecidos como tempestades geomagnéticas. Uma ionosfera com distúrbios resulta numa maior absorção dos os sinais rádio em HF do que na sua propagação.

Número de "sunspots" - Um maior número de manchas solares indica uma maior radiação ionizante do sol a qual faz aumentar a capacidade da ionosfera terrestre a refractar os sinais de HF. O número de manchas solares pode variar desde zero até mais de 200 durante o pico do ciclo solar de 11 anos.

Fluxo solar - O valor do fluxo solar é, na verdade, a medida dos sinais rádio recebidos do sol. Este índice é recolhido uma vez por dia na frequência de 2800MHz (10.7 cm). Maior quantidade de sinais rádio provenientes do sol significam mais radiação ionizante o que está directamente correlacionado com o número de "sunspots" ou manchas solares. O fluxo solar varia desde 60 (para ausência de manchas solares) até 300.

O índice A - O índice A descreve as condições geomagnéticas das últimas 24 horas. Pode variar de zero até 400 mas é muito raro vê-lo acima de 75 ou 100. Normalmente vemos o índice A entre 4 e 50, sendo os valores abaixo de 10 desejáveis para as comunicações em HF. Números altos neste índice significam uma excessiva absorção das ondas rádio pela ionosfera.

Índice K - O índice K é similar ao índice A, mas reflecte as condições nas três horas anteriores e seus valores variam entre zero e 9. Números baixos significam uma ionosfera calma. É importante manter-se a par do índice K durante pois a sua subida indicia um decréscimo das condições de propagação em especial as comunicações que utilizam um caminho através dos pólos.

Quadro resumo comparativo dos índices Geomagnéticos:

Condições da ionosfera

  Índice K  Índice A
Quiet  0-1 0-7
Unsettled  2 8-15
Active  3 16-29
Minor storm  4 30-49
Major storm  5 50-99
Severe storm  6 9 >99


Agora por que não sintonizar, em AM nas frequências de 2.5MHz, 5MHz, 10MHz, 15MHz ou 20MHz., aos 18min (WWV) e 45min (WWVH) depois da hora certa. A informação disponibilizada pelo "National Institute of Standards and Technology" inclui o fluxo solar os índices A e K, a actividade solar, as condições do campo geomagnético assim como a previsão para as próximas 24horas. Na Internet, existe um manancial inesgotável de informação sobre a propagação, por exemplo no site da ARRL, no DXSummit que além do DX cluster online compila os últimos 25 boletins da WWV, etc.

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